segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Prática de ensino ocupa 21% do currículo de Pedagogia


Pesquisa avaliou 71 currículos de cursos em todo o País

Chegar à sala de aula sabendo o quê e como ensinar não é garantia oferecida aos professores nos cursos de Pedagogia no Brasil. Uma pesquisa realizada pela Fundação Carlos Chagas, a pedido da Fundação Victor Civita, revela que as disciplinas obrigatórias que tratam de práticas de ensino, didáticas específicas e metodologias para os professores usarem nas salas de aula representam apenas 20,7% do currículo dos cursos de Pedagogia.

Foram avaliados 71 currículos de cursos distribuídos em todo o Brasil. A pesquisa evidenciou também que há grande diversidade do leque de temas abordados: foram encontradas 1.968 (de 3.107) disciplinas oferecidas com nomes e enfoques totalmente diferentes. Os concursos públicos, por sua vez, também não colocam a didática de ensino como requisito prioritário para a seleção dos professores. Foram avaliados 35 editais de concursos de secretarias municipais e estaduais de educação realizados entre 2002 e 2005.

A pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, Marina Nunes, que participou da coordenação do estudo, afirma que a tendência observada nos concursos é uma exigência maior das questões ligadas à legislação e ao funcionamento dos sistemas educacionais do que conteúdos que tratem da relação entre teoria e prática de ensino. "A pesquisa evidencia a necessidade de reestruturação urgente na formação inicial e processos de seleção", conclui Marina.

Sobre o currículo, outro fator que chama a atenção são as disciplinas ligadas a modalidades de ensino específicas: 11% são voltadas a educação infantil, de jovens e adultos ou educação especial. Na prática, isso quer dizer que o professor que pretende dar aulas em educação infantil tem apenas 5% das disciplinas voltadas a essa etapa, enquanto fundamentos da educação e funcionamento dos sistemas educacionais ocupam 42% do currículo.

"É importante frisar que didática também envolve teoria. Não estamos defendendo um curso que apenas aborda a prática, mas é preciso haver proporcionalidade nas disciplinas ofertadas", avalia a coordenadora pedagógica da Fundação Victor Civita, Regina Scarpa.

Formada há dois anos, Dulceli de Souza Carvalho, de 24 anos, afirma que os obstáculos do início de carreira foram amenizados com o amor ao trabalho. "Quando a gente faz o que gosta não vê problemas", diz. Questionada sobre o curso de Pedagogia, a professora aponta as disciplinas de aprendizagem prática como as mais importantes. "As práticas eram as aulas que possibilitavam um conteúdo melhor para trabalhar na escola."

Em países como a Finlândia, que tem um dos melhores índices de desempenho da educação básica, há maior oferta de disciplinas voltadas à didática. "Muitos docentes acham que o amor à profissão basta, enquanto boa prática de ensino exige profissionalização."

Há 13 anos no comando da Escola Municipal Presidente Campos Salles, em Heliópolis, Braz Rodrigues Nogueira diz que a formação inicial não prepara o professor para a sala de aula e tampouco concursos garantem a seleção dos melhores. "O professor acaba tendo de aprender na prática."